Pedro Miguel Cardoso
Professor no ensino básico e secundário
Centenário do nascimento de Varela Gomes
Conheci João Varela Gomes através de livros (como a biografia que António Louçã escreveu), de imagens e de histórias sobre o combate à ditadura e sobre o processo revolucionário que se desencadeou a 25 de Abril de 1974. Infelizmente não o conheci pessoalmente. Mas declaro que é uma referência para mim, um fenómeno da humanidade que dá esperança que ela contém em si o potencial para ser mais justa, livre e consciente. A generosidade, o inconformismo, a coragem e a determinação foram características marcantes da sua personalidade e da sua intervenção intelectual e política.
Acredito que terá sido um dos militares mais avançados da história portuguesa em termos de consciência social e política. Se pessoas como ele podem surgir numa instituição militar de orientação fascista e colonialista, podemos ter esperança que mesmo nas circunstâncias mais adversas podem surgir pessoas e sobretudo fenómenos coletivos, capazes de revolucionar o presente, solucionando crises e abrindo novas perspetivas para o futuro.
No quadro da grave crise social e ecológica contemporânea desencadeada pelo capitalismo, o exemplo de João Varela Gomes ilumina o pensamento e a acção. Acredito que as classes oprimidas e dominadas não estão condenadas pela história. Acredito que não vão permitir que o capitalismo conduza a humanidade a um desastre de proporções inéditas. A consciência e acção dos povos e dos trabalhadores abrirá o caminho para uma verdadeira civilização reconciliada consigo mesma e com a natureza. João Varela Gomes hoje esquecido pelo poder dominante será recordado como um dos justos e corajosos que abriram caminho para essa nova civilização.