João Varela Gomes
Discurso de João Varela Gomes na comemoração do seu 90º aniversário
Olá família, amigos
Olá companheiros de jornada e de luta
Bem-vindos a este festejo na Casa do Alentejo, em celebração das minhas provectas 90 Primaveras. (Fique claro que não se trata de «homenagem» nem de nada parecido).
A todos, dedico – por entender que me diz respeito – o poema de Sidónio Muralha (Lx 1920 – Curitiba 1982):
ROTEIRO
Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
Pago o preço
Pago embora seja raro
Mas homem não tem avesso
e o peso da pedra eu comparo
à força de arremesso.
Um rio, só se for claro.
Correr sim, mas sem tropeço.
Mas se tropeçar não paro
– não paro nem mereço.
E que ninguém me dê amparo
nem me pergunte se padeço.
Não sou nem serei avaro
– se carácter custa caro
pago o preço.
Sim, paguei um alto preço. Mas esse aspecto não é para aqui chamado. Outro há, no entanto, que desejo realçar:
Foi por imperativo ético pessoal que adoptei o Roteiro da minha vivência político/revolucionária; incluindo as decisões que puseram em risco a vida e o destino de terceiros. Sempre o afirmei, sempre assumi o meu carácter de refractário a pressões exteriores. Apraz-me reafirmá-lo ao cumprir 90 anos de vida, nesta amiga, fraternal companhia.
Não quero terminar sem destacar o apoio e a coragem de minha mulher Maria Eugénia, quer na luta política antifascista, quer enfrentando a desventura da cegueira e doutras contingências dolorosas da nossa atribulada vida.
Saudação especial é também devida aos companheiros que comigo arriscaram a vida em Beja, no 1º de Janeiro de 1962; e aos indomáveis da 5ª Divisão, o mais revolucionário organismo militar surgido com o 25 de Abril 1974-75.
Grato pela vossa presença, pela lealdade e amizade com que sempre contei e nunca faltou.
Um grande abraço para todos e cada um.
Do «Mais Velho»
Casa do Alentejo, Lisboa, 24 de maio de 2014