21 de Maio, 2024

Discurso de João Varela Gomes na comemoração do seu 90º aniversário

Por João Varela Gomes

Olá família, amigos

Olá companheiros de jornada e de luta

 

Bem-vindos a este festejo na Casa do Alentejo, em celebração das minhas provectas 90 Primaveras. (Fique claro que não se trata de «homenagem» nem de nada parecido).

A todos, dedico – por entender que me diz respeito – o poema de Sidónio Muralha (Lx 1920 – Curitiba 1982):

 

ROTEIRO

 

Parar. Parar não paro.

Esquecer. Esquecer não esqueço.

Se carácter custa caro

Pago o preço

 

Pago embora seja raro

Mas homem não tem avesso

e o peso da pedra eu comparo

à força de arremesso.

 

Um rio, só se for claro.

Correr sim, mas sem tropeço.

Mas se tropeçar não paro

– não paro nem mereço.

 

E que ninguém me dê amparo

nem me pergunte se padeço.

Não sou nem serei avaro

– se carácter custa caro

pago o preço.

 

Sim, paguei um alto preço. Mas esse aspecto não é para aqui chamado. Outro há, no entanto, que desejo realçar:

Foi por imperativo ético pessoal que adoptei o Roteiro da minha vivência político/revolucionária; incluindo as decisões que puseram em risco a vida e o destino de terceiros. Sempre o afirmei, sempre assumi o meu carácter de refractário a pressões exteriores. Apraz-me reafirmá-lo ao cumprir 90 anos de vida, nesta amiga, fraternal companhia.

Não quero terminar sem destacar o apoio e a coragem de minha mulher Maria Eugénia, quer na luta política antifascista, quer enfrentando a desventura da cegueira e doutras contingências dolorosas da nossa atribulada vida.

Saudação especial é também devida aos companheiros que comigo arriscaram a vida em Beja, no 1º de Janeiro de 1962; e aos indomáveis da 5ª Divisão, o mais revolucionário organismo militar surgido com o 25 de Abril 1974-75.

Grato pela vossa presença, pela lealdade e amizade com que sempre contei e nunca faltou.

Um grande abraço para todos e cada um.

 

Do «Mais Velho»

 

Casa do Alentejo, Lisboa, 24 de maio de 2014