21 de Maio, 2024

Sargento páraquedista, membro do Conselho de Redação da Versus (1983-1988)

Varela Gomes, revolucionário incansável

Por António Carmo Vicente

João Varela Gomes foi o militar, o homem, o revolucionário mais completo que conheci.  Na sua luta pela liberdade enfrentou tudo e todos, arriscando a vida, e sofrendo largos anos nas prisões fascistas.

O golpe de Beja, em que foi ferido de quase morte, demonstra bem a sua coragem e a vontade de acabar com um regime com o qual nunca pactuou, tentou derrubar a todo o custo e devolver a liberdade ao povo que lhe tinha sido usurpada em 1926. Conheci-o pessoalmente uns dias antes do 25 de Novembro, quando fui falar com ele para lhe pedir conselho e saber da sua visão sobre o que se estava a passar com os Paraquedistas em guerra aberta com o seu Chefe de Estado-Maior, General (G) Morais e Silva. Aconselhou-me a pôr água na fervura porque eles nunca nos perdoariam a revolta. Mas, acontecesse o que acontecesse, e como sabia da justeza da nossa luta, estaria do nosso lado. O resto já pertence à história, eu fui parar a Custóias e ele ao exílio de Angola e Moçambique onde foi obrigado a permanecer durante anos. Tal como ele, eu e mais umas centenas de camaradas nunca fomos acusados de coisas concretas que pudessem ser provadas em tribunal.

No regresso, o nosso coronel revolucionário, que nunca se cansava, continuou a sua luta como colaborador da Versus, da ER, escrevendo livros em que sobressai o Livro Branco da 5ª Divisão, escrevendo para jornais (enquanto o deixaram, os jornais são a voz do dono). Esteve sempre na linha da frente contra os golpistas de Novembro. Tornámo-nos grandes amigos e camaradas durante todos esses anos, amizade e camaradagem que só terminaram com a sua morte, mas que continuam vivas na minha memória até que eu próprio parta para outra ou nenhuma dimensão.

Sinto apenas uma dor profunda pela ingratidão deste país à beira mar plantado. O Presidente Marcelo e o seu amigo António Costa não o julgaram digno de Bandeira a Meia Haste, tal como não acharam digno Otelo Saraiva de Carvalho, algum tempo depois …

E, se Otelo foi o estratega de Abril, sem o qual talvez tudo tivesse ficado na mesma por longos anos, com os soldados a morrer em África em nome de coisa nenhuma, Varela Gomes foi o precursor mais destacado de Abril.

Foram as suas lutas e as de muitos outros camaradas que tornaram possível a vitória de Abril.

Portanto, para mim e muitos outros camaradas, Varela Gomes é um dos mais destacados capitães de Abril.

Hasta siempre, Comandante!

Hasta siempre, Camarada!

HASTA SIEMPRE, MEU GRANDE AMIGO!